Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

O Jogo dos Deuses
rascunhos de idéias sobre o que poderia ser a quarta geração dos Role Playing Games.

Imagine um jogo de interpretação dentro de um jogo de interpretação, onde divindades que existem em um universo misterioso precisam criar manifestações de si mesmas em uma miríade de mundos paralelos não só para crescer em poder, mas também na busca da UNIFICAÇÃO (momento em que uma divindade atinge o ápice de seu potencial e acende a um grau superior onde até mesmo as preocupações e sofrimentos divinos são superados). Imagine que neste jogo de interpretação cada jogador crie inicialmente um personagem divino que é, por definição, a expressão literal da natureza do jogador. Já nesta fase seria necessária uma reflexão do jogador a respeito de si mesmo. Uma divindade que não se pareça com o jogador não apenas está "mais longe da unificação", como também apresentará dificuldades para ser interpretada (e isso pode custar caro para ela). Ainda estou pensando melhor como seria isso.

Em uma segunda fase cria-se então um mundo imaginário onde as divindades se "manifestarão". A manifestação é, a princípio, muito fraca. Embora esta manifestação seja, a princípio, uma criação da divindade e guardando grande semelhança a esta, ela é ainda imperfeita. É ao mesmo tempo um avatar e uma criatura por si só, e estas duas naturezas conflitam-se a princípio da mesma forma que podem no futuro tornar-se sinérgicas, com ganho para a divindade e para a manifestação. Conforme viva naquele mundo, a manifestação cresce em poder conforme alinha-se e elabora sua conexão com a divindade que a criou. Desta forma constrói-se um sistema de premiação para os personagens-manifestação construído não só sobre suas realizações e crescimento pessoal dentro da história, mas também no amadurecimento e aperfeiçoamento da relação entre a manifestação e a divindade (que é, se a criação do personagem-divino tiver sido bem feita, a própria expressão da natureza do jogador).

Ao longo do jogo alterna-se o aperfeiçoamento das manifestações da divindade (podem haver várias, em vários mundos, ao mesmo tempo), conforme estas se alinham com seu eu-deus, com o aperfeiçoamento da divindade enquanto esta descobre sobre si mesma e se aperfeiçoa (conforme o jogador vai refletindo sobre si mesmo e tornando seu personagem-divindade ainda mais fiel à sua natureza). O objetivo último da UNIFICAÇÂO torna-se um norte, uma orientação, para o jogador que durante o jogo terá a oportunidade de "manifestar" a si mesmo em seu personagem-divindade e, através deste, manifestar-se nos mundos-manifestação com suas manifestações divinas.

Estas idéias vem em resposta à pergunta que me faço há 17 anos: Como os RPGs podem se tornar ainda melhores e ainda mais envolventes, e (e esta é a parte nova da pergunta) como isso pode ser construtivo (em vez de alienante) para o jogador?

A demanda é complexa e delicada, e portanto sua resposta é igualmente complexa. Estou ainda trabalhando nela, mas no espírito da cultura livre estou dividindo com vocês as primeiras idéias que estão brotando. É claro que aceito críticas, sugestões, análises e sobretudo colaboração. Só de pensar este rascunho já senti que minha vida faz um pouco mais de sentido.

Vou realizar o meu sonho adolescente de criar um sistema de RPG. E que sistema será este! :)

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