Aborto como direito, e o direito que não temos de falar dos outros...
Um breve roundup que escreví para o Global Voices Online, traduzido também (obviamente) para o Global Voices em Português, deu um bocado o que falar. Como é mais simples mostrar do que explicar, colo abaixo o roundup e os comentários que já rolaram até agora..
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Brasil: O aborto é um direito, não um crime
2008-10-02 @ 22:30 UTC · Publicado originalmente por Daniel Duende
Traduzido por Daniel Duende· Veja o post original
- Países:
- Brazil
- Tópicos:
- Criança, Cyber-Ativismo, Gênero, Saúde, Direitos Humanos, Lei, Racismo
- Línguas:
- Portuguese
O Sapataria, um blogue brasileiro sobre direitos LGBT e da mulher, publicou fotos do recente protesto promotivo por entidades ligadas a questões de gênero contra o enfoque dado ao aborto nas leis brasileiras, e partilha conosco algumas idéias sobre o tema: “Em vários países o fato do aborto ser considerado crime penaliza diretamente as mulheres pobres, principalmente as negras, que tem menos acesso aos serviços de saúde e métodos contraceptivos. […] Trata-se de um atentado à autonomia e à dignidade das mulheres, em sua maioria pobre, sem acesso a assistência jurídica e psicológica.”
13 comentários
UPDATE:
E o debate continua, indo e vindo em alguns momentos, mas sempre chegando a algum lugar... creio eu...
Ou então é só impressão minha, pois parece ter gente que não entende e nunca vai entender que o buraco é bem mais embaixo...
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Como voce pode justificar alguem que nao tem dinheiro para si ter 3 filhos e eles morrerem a fome e pura ignorancia nao tenho pena de pobre nao , nao querem trabalhar tem filhos como meio de sustento , nao escolheram nascer assim mas escolheram continuar assim e eu nao sou rico.
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Justificar? A complexidade humana precisa ser justificada?
Nem sempre as pessoas agem como nós, olhando de fora, consideramos mais racional. Isso não quer dizer que não tenham seus motivos. Quer dizer, no máximo, que nós não os compreendemos ou enxergamos.Mas eu fiquei impressionado com suas frases…
“nao querem trabalhar tem filhos como meio de sustento , nao escolheram nascer assim mas escolheram continuar assim”?
Você realmente acredita que “os pobres” não querem trabalhar, e tem filhos como meio de sustento? Pior ainda, acredita que eles escolheram continuar pobres? Você não pode estar falando sério, Sim.De qualquer forma, parece que essa discussão não vai a lugar algum. Você nem se deu ao trabalho de responder minhas perguntas. Sabe-se lá se sequer lê o que escrevo…
Abraços do Verde.
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A vida está acima de qualquer credo ou religião. Quando ela está em jogo, não importam as diferenças. O que precisa aumentar em nós é a busca de soluçõe criativas e sermos capazes de lidar construtivamente com a grande tarefa a que todos somos chamados: contruir um mundo solidário. As mulheres negras e pobres que continuam abortando são o espelho da degradação social a que chegamos, elas precisam ser amparadas no seu desejo de ser mães e não serem estimuladas - pela nossa ganância - a serem assassinas.
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Olá Diviol Rufino,
Eu também acredito que a vida está acima de qualquer credo e de qualquer religião. Mas chamo a atenção para o quê estamos chamando de vida. Será ela meramente um fato biológico, sobrevivência e continuidade da vida biológica, ou estamos falando de uma vida completa, com dignidade, oportunidades de crescimento e de realização pessoal?
Quisera vivêssemos em um mundo onde todos tem oportunidades de forma igual. Quisera vivêssemos em uma sociedade que recebe bem a todos, e onde todos podem encontrar apoio entre todos — uma comunidade sem preconceitos, bairrismos, exploração…
Mas esta não é a nossa realidade. E na nossa realidade, muitas pessoas vivem — no sentido biológico — e morrem sem ter tido uma chance sequer de viver de forma digna, e sem nenhuma oportunidade de sair da situação limite onde nasceu e viveu. E é nesta sociedade, a sociedade em que vivemos, que o direito de escolha por parte da mulher e do casal se faz mais necessário. O direito de escolher se quer colocar no mundo um filho que, assim como você, não terá chances. O direito de escolher se pode arcar com mais uma boca para alimentar, mais um dependente para cuidar, mais uma pessoa para ver sofrer ou, pior ainda, para ter que abandonar.
Se vivêssemos naquele mundo perfeito, provavelmente todas as pessoas também teriam perfeitos conhecimentos de métodos anticoncepcionais, e todos eles seriam 100% eficazes. Naquele mesmo mundo perfeito, todas as pessoas teriam amor e saúde interior suficiente para criar quantos filhos quisessem, e teriam todo o apoio para isso.
Mas no mundo em que vivemos, com todas as suas guerras, toda a pobreza, toda a doença do corpo e da alma, e como toda a falibilidade humana, retirar do indivíduo o direito de escolher sobre a própria vida, e uma vida que possa vir a colocar no mundo, é um absurdo. É neste mundo em que vivemos, já que não vivemos nem sabemos de nenhum outro, que o aborto deve ser um direito de toda mulher.
Se um dia vivermos em um mundo diferente, a gente conversa.
Abraços do Verde.
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Se a humanidade tivesse optado pelo aborto, priorizando a classe pobre, nós não teríamos conhecido a genialidade de muitos artistas, atletas, lideres mundiais de peso, jogadores do futebol brasileiro - que trazem inúmeras divisas para os clubes de vários países e empresas do mundo. Foi com esse discurso excludente que - não a muito tempo atrás - o mundo ficou estarrecido com um Hitler, um mussolini e tantos outros que ainda estão cm o poder de extermíno entre as mãos. O que precisamos mesmo é criar vergonha na cara, sairmos do nosso egoismo, da nossa indiferença, dos nossos medos de fundo narcisista, e estender a mão para quem mais precisa, criando políticas públicas adequadas, sistema de saúde garantido para todos, educação de qualidade, habitação e saneamento, - em suma -, formarmos uma geração nova de jovens politizados e conscientes e não deixarmos que muitos que estão no poder - os famosos ladrões de colarinho branco (muitos dos quais nasceram em berço de ouro!), aqueles que não roubam para comer mas para engordar suas contas em bancos do exterior, não metam a mão naquilo que é patrimônio de todos, ganhos honestos de milhões de brasileiros que - como eu e tantos - pagam seus impostos diretos e indiretos (e não são poucos!).
Trabalhei muitos anos no Rio de Janeiro e conheci - graças ao meu trabalho - inúmeras pessoas de comunidades carentes que trabalham duramente para manter suas famílias na dignidade e na honestidade. Bandidos? Existem, como em todos os lugares. Morei no Rio 12 anos e nunca fui assaltado. Mas, em contrapartida (a poucos dias, na Europa, fui roubado por um grupo de jovens, brancos, ricos, drogados!) Não sou preconceituoso - diga-se de passagem - mas, fatos como esses nos convencem de que o que precisamos é de outra coisa: precisamos de mais vida, mais amor! -
Quando voce nao estuda e nao tem pais ricos , voce escolhe ser pobre , quando voce tem um emprego com um salario minimo e quer viver na segurança disso , voce escolhe ser pobre , quando voce tem filhos ja tendo pouco dinheiro ai assina sua sentença de pobre para toda vida , agora quando voce faz sacricicios para investir no seu negocio na sua vida e adbica de muita vida pessoal para ter uma boa vida no futuro ai nao escolhe ser pobre.
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Senhor Diviol Rufino, concordo plenamente com as necessidades sociais que apresentas em sua resposta. Precisamos mesmo de mais e melhor educação para nosso povo, melhores oportunidades para nossa gente, indiferente de classe ou cor da pele. Precisamos de mais segurança, mais e melhor atendimento de saúde, mais respeito e incentivo à cultura. Precisamos, sobretudo, de mais respeito pelo ser humano.
E é por uma questão de respeito — respeito pela dignidade e pela soberania da mulher sobre seu corpo — que defendo o direito de escolha. Direito de escolha não significa estímulo ao aborto, como pode ter sugerido nosso comentador ‘Sim’, nem significa desvalorização da vida. Pelo contrário, significa valorizar muito mais a escolha livre que cada mulher poderá fazer — a de ter filhos em um contexto em que estes não são uma obrigação. Valorizará muito mais também a vida, vida desejada, que advirá da gestação escolhida e desejada pela mãe. Valorizará, sobretudo, o direito de todos a uma vida digna, neste mundo em que vivemos ou em qualquer outro.
Precisamos de mais vida e mais amor, disso não há dúvida. Mas precisamos também sair de nosso pedestal de machos que enxergam o mundo apenas com os olhos do gênero que há séculos domina a cultura e a sociedade, e entender o que querem, e merecem, estas mulheres que chamamos de esposas, filhas, senhoras, meninas, empregadas, chefes, beatas ou putas, mas que dificilmente sabemos enxergar como aquilo que na realidade são — mulheres, com suas demandas, suas dificuldades e suas particularidades. Precisamos de mais respeito à mulher!
Abraços do Verde.
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Caro(a) Sim,
onde você vive todos aqueles que desejam estudar, tem a oportunidade de fazê-lo? Onde você vive, todos tem acesso a um emprego com ao menos um salário mínimo de remuneração e, mais do que isso, tem possibilidade de sonhar e ousar ir além disso? Onde você vive todas as pessoas tem acesso a informações sobre controle de natalidade, saúde reprodutiva e maternidade responsável? Todos tem acesso à educação, à saúde e aos direitos básicos de um ser humano? Isso tudo é muito bom, mas levando em conta que o mundo não é assim como parece ser no lugar em que você vive, acho que o buraco é bem mais embaixo.
Mais uma vez sugiro que você enxergue um pouco além de sua janela. Algumas das coisas que dizes estão fazendo pouco sentido quando vistas da perspectiva de quem vive em lugares do mundo onde as oportunidades, o emprego, a educação e a saúde deixam muito a desejar…
Abraços do Verde.
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Explique-me como pode alguem que passa fome nao tem condições ter 10 filhos e esperar um dia a ser rico que amor pelas crianças pode ter ?
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Você acredita que alguém que passa fome, por falta de dinheiro ou por falta de comida na região que reside, teve educação suficiente para refletir sobre isso? Acredita que conheça métodos contraceptivos? Acha que deveria, na falta de métodos contraceptivos, abster-se de atividade sexual? Acredita que as mulheres desta região tenham acesso a algum tipo de conhecimento sobre controle de natalidade? Em suma, acredita que estas pessoas são como você, pensam como você, e sabem o que você sabe? Por vezes, notar que se tratam de pessoas diferentes, muito diferentes, vivendo em realidades diferentes, muito diferentes, da sua, pode ajudar você a entender o que acontece. Foi isso que eu quis dizer quando te sugerí olhar um pouco além de sua janela, e se informar sobre as realidades que cercam pessoas em outros contextos.
Abraços do Verde.
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Mas eu nao critico eles eu critico voces que em vez de ajudar e enviarmos dinheiro para africa ou gente pobre ai no brasil o mais importante seria natalidade e educação para o problema não se arrastar para sempre , porque se vamos ajuda-los com eles a terem 10 filhos e a multiplicação da pobreza e criminalidade e o mundo está como está por isso.
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Eu concordo com você, Sim, sobre a importância maior de se investir em educação e informação. Mas acho que a questão também não é tão simples assim. A que você se refere quando diz “em vez de mandar dinheiro para a Africa”? Que dinheiro, e de que forma está sendo enviado, e com que finalidade?
Quanto ao Brasil, não sei se você sabe, mas no momento há um enorme investimento do governo por aqui para possibilitar as pessoas a saírem da pobreza absoluta ou progredirem profissionalmente, o que inclui ações de educação e infra-estrutura. Entre estas ações, inclui-se a informação a respeito de planejamento familiar e controle de natalidade. Além disso, nosso presidente é favorável à legalização do aborto enquanto direito da mulher e da família, mas a existência de uma bancada forte que se opõe a isso no Congresso impede que tal mudança legal ocorra no Brasil neste momento.
Abraços do Verde.
Olá Daniel! Valeu pelo comentário no blog, esse é realmente um tema que nos é muito caro! A vida das mulheres precisa estar em primeiro lugar nas políticas e práticas, na sociedade brasileira e no mundo!
Tamojunt@s! Abraços, Jandira (Sapataria - Coletivo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais do DF - Brasil)
Olá Jandira. Parabéns pelo trabalho que vocês vem fazendo no blogue Sapataria. Podem contar com o Global Voices Online para amplificar a voz de vocês na defesa dos direitos da mulher em toda a sua diversidade. Esta é a nossa missão.
Abraços do Verde.
Olá Jandira, olá Daniel,
Surpreende-me ver alguém a falar de aborto e mostrar que nem sabe o que isso é !!! Na verdade, para além dos direitos das mulheres seria bom ter em conta o direito do filho (abortado) e do pai: haverá filho sem pai? É preciso esclarecer-se que no aborto existem 3 personagens todas elas importantes e omitir qualquer uma é no mínimo desonesto!
Sobre a personagem quase sempre esquecida, recomendo a leitura da história da Gianna Jessen, certamente vão gostar e porque não publicá-la no blog?
História da Gianna Jessen:
http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/02/testemunho-impressionante-de-vida_27.html
Para quem não sabe bem como é feito o aborto, aqui ficam algumas luzes:
http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/02/os-instrumentos-do-aborto.html
Voltando ao direito das mulheres:
É espantosa a forma como os defensores do aborto defendem as mulheres mais pobres: eliminando-lhes o filho. Não haverá formas de ajuda realmente eficazes e solidárias?
Para quem passa dificuldades dar um aborto é dar muito pouco!!!
Se pretenderem saber do “benefício” que o aborto trás para as mulheres (pobres e ricas), podem ler e divulgar:
http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/10/rssia-250-000-mulherempor-ano-ficam.html
http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/08/site-sobre-os-riscos-do-aborto.html
http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/05/mais-sobre-as-consequncias-do-aborto.html
http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/03/depresso-causada-pelo-aborto-muitos.html
OBRA DE TEATRO SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS DO ABORTO:
http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/03/laura-zapata-actriz-mexicana-prepara.html
http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/03/o-lado-obscuro-do-aborto.html
http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/03/royal-college-of-psychiatrists-afirmam.html
http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/03/testemunhos-de-quem-lamenta-o-aborto.html
câncer:
http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/02/novos-estudos-sobre-efeitos-do-aborto.html
Morte no México:
http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/02/jovem-morre-vtima-de-aborto.html
e agora? Acha mesmo que o aborto é defensável?
Já que voce anda a mostra blogs de Portugal eu digo que sou de Portugal e desde que o aborto foi autorizado muito menos mulheres morrem e ha muito menos criminalidade, voce e catolico pois eu nao viva a sua vida a sua maneira e eu a minha.
Olá João,
Creio que o que disse a/o comentadora/or Sim parece se confirmar em outros países também. A taxa de mortalidade de mulheres em países em que o direito de escolha sobre a gestação lhes é legalmente negado costuma ser um bocado influenciada por este fato. Em países como o Brasil, milhares de mulheres morrem todos os anos por conta de complicações ligadas a gestações de risco ou decorrentes de abortos clandestinos. Trata-se, então, não apenas de uma questão de moral ou opinião. Trata-se de uma realidade, um problema bem real, da saúde pública de todos os países, que deve ser visto com um olhar sério e honesto, de preferência despido de egoísmos, achismos e radicalismos religiosos.
Além disso, por trás do argumento de que “há 3 pessoas envolvidas em uma gestação”, geralmente pode se encontrar uma tentativa espúria de desempoderar (ainda mais) a mulher em seu direito de decidir sobre a própria vida. É contra isso que lutam tantas mulheres pelo mundo, como a Jandira, que deixou o primeiro comentário acima. Mais do que apenas pelo direito de escolher sobre a gestação que venha a ocorrer dentro de seus corpos, mas sobretudo sobre todos os direitos imprescindíveis para que possam viver com dignidade. O feto que ainda não nasceu não é, então, desimportante. Mas torná-lo mais importante do que a vida e a dignidade da mulher, me parece nada mais do que uma tentativa de reduzir ainda mais a importância ou os direitos das mulheres. Pior ainda, acreditar que o homem, que não gesta, não sente dores do parto, não amamenta, e que muitas vezes sente-se na total liberdade de se abstrair de qualquer responsabilidade pela vida que a mulher carrega no ventre (exceto quando resolve lutar pelos abstratos direitos “do feto”, geralmente do feto “dos outros”), tem algum grande direito de opinar sobre a vida alheia, só pode ser o tipo de piada de mau gosto que costumam fazer os homens pelo mundo afora.
Abraços do Verde.
Nao sendo hipocrita mas a maior coisa que a sociedade ganha com isto é muito menos gente violenta e menos criminosos , sim porque a maioria dos criminosos que matam estrupam etc , vem de familias disfuncionais e pobres claro que ha excepção mas regra é essa , e depois no meu país não descontam para sociedade , o estado dá casas a eles obriga a pagar uma renda minima como 1 real , e mesmo assim nao pagam e se obrigam a sair de casa destroiem-na , com o aborto conseguimos evitar muito o crime e um mundo muito melhor para todos nós e todas crianças que nascem de familias com condiçoes e amor para dar , porque o amor não é tudo , ter filhos requer ter dinheiro não é por ela cá fora e os outros que as aturem , mas se voces no brasil querem manter a fé católica quando vivem na miséria e acham que países como espanha usa suécia que tem uma qualidade de vida muito acima e vivem muito mais felizes e civilizados estão errados , então força é uma opção na india dizem que os pobres que morrem pobres nascem ricos é a forma de controlar pobres , aí inventam deus para aguentarem uma vida de miseria e sofrimento.
Veja bem, Sim…
O argumento de que o aborto pode ser uma forma de diminuir a violência urbana, que seria causada pela quantidade “grande demais” de pessoas pobres, advindas de “famílias disfuncionais” (que muitos pensam ser uma exclusividade dos “pobres”) e de ambientes violentos, não é nenhuma novidade por aqui por estas terras brasileiras. De fato, há até alguns políticos que defendem o aborto, com foco principal no aborto para mulheres “pobres”, como uma forma de controle de criminalidade futura. Creio, contudo, que isso já se torna levar a discussão para um outro lado, com o qual não concordo.
Defender o direito de escolha da mulher, de todas as mulheres, independende de cor, credo, nacionalidade ou origem social e econômica, é uma coisa. Defender o aborto como uma forma de se diminuir a quantidade de “potenciais criminosos” (afinal, para muitos, pobreza e crime são sinônimos) é outra coisa totalmente diferente. Defender que a mulher tem o direito de decidir sobre sua vida e seu corpo é diferente, bem diferente, de esperar que este direito vá livrar a classe média dos “filhos indesejados da pobreza”. A meu ver, não é assim que a coisa funciona.
A pobreza se combate de outras formas, muitas outras, e é claro que uma delas é se dar atenção a todas as necessidades sociais das classes excluídas e emprecidas, entre elas as questões de saúde pública entre as quais o aborto figura. Mas o aborto não pode ser visto como uma forma “mais digerível” de controle étnico/social. Aborto é um direito, não ferramenta estatal de combate ao crime e à pobreza.
Além disso, cada país é um país. Não sei se comparar Portugal com a Suécia faz algum sentido para os portugueses. Mas comparações entre o Brasil e qualquer país europeu fazem muito pouco sentido, a meu ver, quando se leva em consideração a absoluta diferença entre as realidades históricas e sociais destes países. Não é a legalização do aborto que transformará o Brasil em Suécia, nem a mudança de uma política ou lei qualquer que transformará Angola nos Estados Unidos da América. Infelizmente a coisa não é tão simples assim.
Por outro lado, considero um pouco ofensiva a noção muitas vezes propalada por alguns cidadãos europeus de que o Brasil é um país que vive na miséria. Muito pelo contrário. O Brasil é um país muito rico, o que torna a enorme pobreza na qual vive grande parte de sua população ainda mais gritante. É claro que há muito do que causa esta pobreza que também está por trás da legislação que proíbe o aborto no Brasil, mas não se deve confundir dois problemas que apenas tem em comum algumas de suas causas.
Em suma, acredito no aborto como um direito reprodutivo da mulher. Mas não acredito no discurso que coloca o aborto como uma eventual solução para a pobreza e o crime. Há muito preconceito e uma certa dose de facismo de classe-média por trás deste discurso, e isso em nada serve as mulheres pobres que tanto se beneficiariam por retomar o direito a decidir sobre seus corpos.
Abraços do Verde.
O problema do mundo inteiro na criminalidade na pobreza em tudo neste mundo é só e apenas um as pessoas pobres terem filhos devia ser proibido estamos alimentar uma bola que nunca mais vai acabar , eu dava subsidios para gente pobre nao ter filhos.
Acredito que insinuar uma conexão direta entre a pobreza e o crime, e sugerir o aborto compulsório ou a proibição de certos grupos sociais de gerarem filhos, sejam demonstrações gritantes de facismo, profundo preconceito social e desrespeito pelo ser humano em todas as suas formas.
Isso transcende em muito a esfera da discussão sobre o aborto ou sobre os direitos reprodutivos femininos, e vai rapidamente às raias do desrespeito aos direitos humanos já assegurados — o que é um retrocesso. E neste ponto, pareio-me com quem acredita que todas as pessoas tem o DIREITO de ter filhos, criá-los com dignidade e transmitir a eles os melhores valores sociais e pessoais. Somo a isso minha crença no DIREITO de todas as pessoas, principalmente as mulheres, de decidir quando NÃO ter filhos, mesmo em face de uma gravidez indesejável.
Levar esta discussão para o campo minado do facismo e da eugenia social é absurdo, e condenável.
Abraços do Verde.
Prezado Daniel,
Reforço aqui tudo o que você disse até agora. Seus comentários estão totalmente de acordo com a defesa do aborto que nós, mulheres e homens feministas, fazemos. Gostaria de acrescentar apenas - para argumentar sobre o que o João escreveu - um comentário sobre o papel do pai nesse processo. A figura do genitor é realmente importantíssima na tomada de decisão da mulher sobre ter ou não um filho. Sua presença ou ausência influencia sem dúvida nos casos de aborto por gravidez indesejada - quando as mulheres são forçadas a engravidar, não por sua vontade, mas por vontade do marido ou companheiro, ou naqueles em que o sustento e os cuidados com a criança, e portanto, o ônus econômico e social recai exclusivamente sobre a mulher - por abandono do parceiro. Além disso, é importante lembrar que grande parte dos homens concordam com o aborto como solução para uma gravidez indesejada (seja de amantes ou esposas), chegando a contribuir financeiramente com o procedimento. No entanto, a realização do procedimento e a responsabilização pela decisão tomada recaem exclusivamente sobre a mulher. Cadê os pais nesse momento??? Não há justificativa para essa reivindicação “machista” e patriarcalisca!!!
Historicamente os homens atribuiram toda a responsabilidade pelo cuidado dos filhos às mulheres, assim como sempre coube a elas o trabalho doméstico. Agora as mulheres revindicam o direito de decidir sobre seu corpo e sobre a maternidade e os homens dariam uma enorme contribuição à civilização se nos permitissem realizar essa escolha autonomamente.
Há braços feministas!
Amigo isso e tudo muito bonito e eu concordo com cada 1 faz o que quer tem liberdade para isso o problema e que depois prejudicam a minha vida prejudicam a vida da criança obrigam-nos a pagares-lhe casa comida e tudo , e a criança revoltada ainda vem matar os nossos filhos por isso essa utopia que voce tem de bonito nao resulta veja o resultado que ta ai , voce tem o direito a fazer o que quiser desde que nao ultrapasse a liberdade dos outros , se uma pessoa nao tem dinheiro para comer nao deve ter filhos , eu nao sei como as pessoas ajudam africa sabendo que a fome doenças vai-se prepetuar porque eles tem 10 crianças por pessoa em vez de incentivarem a nao terem mais filhos para finalmente terem uma sociedade boa.
Vamos por partes então, Sim…
As minhas palavras, que você chama de utopias, são marcos mínimos de respeito aos direitos humanos. Se você acredita que o respeito aos direitos humanos é uma utopia, considero isso um bocado preocupante. O que você quer dizer, por exemplo, com “obrigam-nos a pagares-lhe casa comida e tudo”? Crê, por exemplo, que os necessitados o são por que o querem? Acredita na falácia liberal de que quem trabalha enriquece e que os pobres são os preguiçosos que não quiseram trabalhar para enriquecer? Acredita que todos tem chances? Estará chamando de preguiçosos então os africanos, nas costas dos quais — por meio da escravidão — Portugual enriqueceu explorando suas colônias? Estará chamando de preguiçosos aqueles que foram privados e roubados daquilo que tinham para enriquecer outros, que exploravam também seu trabalho? O que é que você chama de preguiça? Se você acredita que ser roubado, violentado e empobrecido simplesmente por que tinha riqueza é preguiça, deveria pensar então que seus filhos — que você teme que sejam atacados pelos “filhos dos pobres” — devem ser muito preguiçosos, afinal eles só seriam atacados pois tem coisas a serem roubadas, a serem cobiçadas. Pense nisso.
Não é também, a meu ver, uma utopia respeitar as dificuldades e questões de pessoas que vivem em contextos que você não entende nem tem como entender. Você já andou pela África? Já estudou sua história fora dos livros que os maiores exploradores do continente africano escreveram? Já leu a história escrita pelos explorados, ou será que a história dos “preguiçosos que só sabem ter filhos” não te interessa? O mundo é mais complicado do que a rua calma que contemplas de sua janela européia, mas pode acreditar — a bonança que tens e temes que seja roubada foi construída com o sangue daqueles que agora deploras. Sente-se no direito de fazê-lo? Então não se surpreenda com a revolta daqueles que tão soberbos criticas agora. A violência social é em grande parte uma expressão desta revolta.
E se você não sabe por quê as pessoas ajudam a Africa, talvez devesse entender um pouco melhor por quê a Africa é a Africa que hoje vemos. Terá sido sempre um continente pobre “cheio de coelhos preguiçosos”? Ou será que a pobreza, a guerra, a doença e a desgraça que hoje açoitam o continente africano tem, de muitas formas, algo a ver com a invasão, a colonização, a manipulação política e econômica e a exploração lá promovidas pelos colonizadores, missionários e emissários de Europa?
E o que tudo isso tem a ver com o direito da mulher em decidir o que fazer com seu corpo? Como é que fomos parar de uma coisa na outra? Para mim parece simples: é muito fácil falar de um tema e esquecer da forma como ele se articula com tantos outros. Conhecimento, consciência, não são coisas fáceis de se obter. É por isso, pelo reconhecimento de nossa própria ignorância, que deveríamos saber ouvir mais do que falar. Pois a cada passo na direção que consideramos certa, podemos estar tropeçando em tantas mais outras questões que são bem mais complexas do que entendemos…
E assim gira o mundo, Sim. E ele não gira à volta de nossos umbigos brancos, burgueses e ricos.
Abraços do Verde.
Olá Pola,
obrigado pelo apoio. Concordo plenamente também com suas colocações. É necessário que as pessoas abram os olhos para tendências que são seguidas e afirmações que são feitas inocentemente, mas que na verdade representam a continuidade da opressão de gênero em nossa sociedade (e em várias outras). O mesmo se aplica a questões raciais e sociais. Por vezes não enxergamos — por não saber ou por não querer ver — mas são justamente as coisas que achamos mais normais aquelas que são mais perversas.
Abraços do Verde.