Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Quem tem medo de Barack Obama?

Eu confesso que tenho. Não que eu ache que ele é mau, ou que tenha más intenções. Muito pelo contrário. Talvez Barack Obama seja um dos homens mais bem intencionados e íntegros a concorrer, e provavelmente ganhar, uma eleição Norte-Americana. É um homem de carisma inquestionável, com um discurso tão poderoso que não dá espaço para qualquer oposição. É um pastor de massas que tem em seu favor o próprio rosto e a própria pele, que o identificam inegavelmente com a massa que o elegerá, e com a massa de observadores do mundo a fora que aguardam ansiosamente pelo futuro que ele trará. Ansiosos ou temerosos, todos aguardam com a respiração contida. Barack Obama é provavelmente o maior estadista e o maior gênio político que aquele país produziu em toda uma geração. E será, muito provavelmente, um dos melhores presidentes que os Estados Unidos da América já teve. Sim, ele será, provavelmente, muito bom para seu país. Sorte dos norte-americanos.

Mas é justamente nestes destes pontos, na genialidade e no poder carismático de Obama, e no país que o elegerá e o qual ele irá governar, que reside o meu medo. Como eu disse, Barack Obama será um presidente muito bom, muito bom mesmo, para seu país. Mas não podemos esquecer que país é este, e como ele enriqueceu. Se não é o mesmo país que explorou a pobreza e doutrinou o mundo com seu discurso de consumo e globalização; o mesmo país que interveio nas questões políticas e sociais de metade do mundo, sempre em proveito próprio, e que depois de dizimar os próprios índios, destruir as próprias florestas, massacrar a própria sociedade debaixo de sua mass-mídia brutal e inescapável, decidiu que seria o árbitro do mundo nestes e em outros assuntos. Barack Obama será o presidente, um dos melhores de todos, deste país. E na mesma medida que sua competência será enorme, o poder dos Estados Unidos da América de ajudar ou destruir o mundo será igualmente maior.

Não pensem por isso que eu creio que melhor seria se o bocomoco do McCain ganhasse. Sua vitória não traria nada, nada mesmo, de novo para os EUA ou para o mundo. Ele iria continuar o trabalho de seus amiguinhos, Bushs e companhia limitada, que nunca fizeram nada bom, nada mesmo, para o resto do mundo. Há quem diga que não fizeram nada bom nem mesmo para o próprio país. Não, não acho que haja dúvida que é muito melhor, seja lá por que motivos quisermos pensar, que Obama seja eleito -- como será. Se eu fosse cidadão norte-americano, já estaria decidido a votar nele desde o primeiro momento que ele apareceu. Seria, sem dúvida, o melhor para mim e para o meu país. Mas eu não sou Norte-Americano. Sou brasileiro de classe média e sem grande vocação para o mercado liberal ou para as grandes corporações -- um pobre contador de histórias que se segura como pode nos poucos recursos que, por sorte, minha condição e minha filiação me permitiram ter. E como tal, não voto nas eleições americanas e tenho mais a temer do que festejar, qualquer que seja o resultado. Posto isso, espero que seja mesmo Barack Obama a ser eleito.



E que os EUA, e principalmente nós, o resto do mundo, tenhamos muito boa sorte. E que os Deuses iluminem o coração deste poderoso, cativante e assustador Barack Obama. Ele pode ajudar a mudar o mundo para melhor enquanto conserta seu país, destruído pelos governantes do passado. Ou ele pode simplesmente destruir tudo, depressa ou devagar, como escolher. Com o poder que tem, ele pode levar seu povo e seu governo para onde quiser. E que os Deuses queiram que seja para um caminho bom. Mais do que nunca, salvo teorias grandiloquentes de alguns revolucionários de pijama ou de jardim de infância, estamos nas mãos desse cara.

Espero que um dia tenhamos, nós também, um presidente tão genial e competente como ele aqui no Brasil. Embora, por hora, ande satisfeito com o presidente que finalmente conseguimos eleger em 2002, depois de anos e anos de nossos próprios "Bushs" terceiro-mundistas.

Pronto. Agora já podem me chamar de bobão ou me jogar pedras. Ao menos falei o que pensava.

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