Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Quando as coisas não acabam nada bem, para variar...

As coisas terminaram mal naquele sequestro que aconteceu lá em Santo André...

A jovem de 15 anos que foi mantida refém durante mais de 100 horas pelo ex-namorado em Santo André, no ABC, foi baleada na cabeça e no abdome, confirmou na noite desta sexta-feira (17) a assessoria da prefeitura do município. Ela foi levada para o Centro Hospitalar de Santo André e corre risco de morte.

De acordo com a assessoria, a jovem chegou ao local inconsciente e está ligada a aparelhos. O estado dela é considerado grave. Por volta das 19h, ela passava por exames. A amiga da jovem, que também era mantida refém, levou um tiro na boca, ainda segundo a prefeitura. Consciente, ela também é atendida no mesmo hospital.

Um coronel da Polícia Militar informou por volta das 19h desta sexta que a ex-namorada foi atingida por dois disparos efetuados, segundo ele, pelo seqüestrador. "Ela tem um tiro na cabeça e um na virilha", disse. A polícia acredita que, pela posição de um dos tiros, ele teria acontecido antes da invasão.

(fonte: G1)


É impressão minha ou o único a sair relativamente ileso daquele sequesto lá em Santo André foi o sequestrador? A sequestrada principal foi, para variar, a que mais sofreu. Foi vítima desde o primeiro momento dos ciúmes e da babaquice de macho do rapaz, e por fim acabou sendo vitimada ou pelo algoz ou pela polícia -- já que saiu carregada do cativeiro com uma bala na cabeça. O GATE-SP sai manchado e criticado por ter permitido a volta da amiga de Eloá ao cativeiro. Principalmente depois que esta saiu também, pelo que parece, baleada. Em suma, o que começou mal terminou pior ainda, e a gente sempre fica se perguntando se poderia ter sido diferente. Será que podia?

Pelo visto a única coisa que pode mudar nas próximas horas, a não ser que as notícias estejam erradas, é que o jovem Lindembergue, que já não parecia ter um futuro brilhante pela frente desde o princípio, acabe sofrendo "um acidente" durante a madrugada e acorde em pior estado do que os outros personagens da tragédia... ou simplesmente não acorde. Em face das duas meninas tão brancas, bonitas e vítimas, feridas e correndo risco de morte, há bastante gente que teria prazer em ver isso acontecer. Não que isso vá mudar o fato de que há duas meninas adolescentes sendo atendidas no hospital agora mesmo, e que situações de namorados ensandecidos ferindo, ou tentando ferir, matando e tentando matar namoradas seja algo terrivelmente comum pelo mundo afora.

O que há de novo nisso tudo? Certas coisas não acabam bem mesmo. O problema é que elas continuam começando e acontecendo. A questão não é se a polícia devia ou não ter invadido mais cedo, ou se Lindembergue devia ou não ser torturado ao chegar à prisão -- o que provavelmente vai acontecer. O que realmente importa é se perguntar por quê estas coisas continuam acontecendo. Por que é que tem tanto cara por aí que, ao ver seu poder dentro da relação minado pela -- imagine só! -- capacidade de pensar e sentir autonomamente de sua companheira, acabe recorrendo à violência e à imposição covarde de sua vontade? O buraco é bem mais embaixo.

De resto, só espero que as meninas fiquem bem.

UPDATE:
Fontes oficiais já anunciaram a morte da ex-namorada-ex-refém, mas voltaram atrás. O G1 também parece estar um tanto confuso em sua grande vontade de anunciar primeiro, tendo em vista que já colocou e tirou manchetes sobre o caso de sua página principal umas 2 vezes na última hora. Para variar, o caso agora vira circo e ninguém vai se perguntar por que é que estas coisas acontecem...

2 comentários:

Anônimo disse...

eu só lembro do que rolou com minha prima qdo vejo coisas deste tipo. Só pra te interar do assunto:Ela foi assassinada por um idiota que não aceitou tomar um fora. Ela viu que o cara n valia nada e não quis sequer ficar com ele. E ele por não aguentar isso descarregou uma arma nela. Ela quis ter uma vida e ele não deixou: ela morreu com 20 anos e esse infeliz continua vivo na cadeia sendo sustentado pelos meus impostos.
A dor que a familia sente numa hr destas é uma coisa que n se descreve; a vida dos meus tios acabou.
E é exatamente a mesma pergunta que vc fez aqui, que eu tbm me faço toda vez que vejo estas coisas " PQ ISSO AINDA CONTINUA ACONTECENDO?" casos iguais acontecem cada vez mais frequentemente, e meu Deus, pq????

Uma resposta que a sete anos eu procuro; enqto isso,a dúvida, a dor e a revolta que fica no coração da gente depois que passamos por uma destas , meu amigo, são eternas.

tammy

Daniel Duende disse...

Nossa, Tammy! Eu não sabia que havia acontecido uma história semelhante com sua prima. Que situação terrível! Antes de mais nada, espero que as feridas se curem com o tempo, e que vocês fiquem todos bem.

Agora, sobre episódios como estes, e sobre o por quê de acontecerem...
Creio que seja flagrantemente uma questão de gênero -- da exposição flagrante de como reagem muitos homens à insegurança que lhes causam as mulheres ao se darem o *direito* de decidir suas próprias vidas, o que muitas vezes inclui dar o pé na bunda deles.

Creio que a maioria dos machos de nossa linha de montagem não está emocionalmente preparada para lidar com a frustração, com os sentimentos alheios, e sobretudo com a rejeição. Nestas situações, muitos explodem, perdem as estribeiras, e para isso contam muitas vezes com a silenciosa anuência da sociedade -- que os considera por vezes "coitados" ou "loucos", quando na verdade estão sendo simplesmente machos homicidas.

A situação é muito complicada, e torna-se muito delicada por ser invisibilizada pelo circo midiático e pela atenção exacerbada das pessoas ao "fato", que acaba por ofuscar a "causa" ululante que está por trás.

O problema é de educação? É de formação? Será problema da forma como encaramos as coisas em nossa sociedade? As perguntas são muitas, e as respostas e o interesse das pessoas por elas muito pouco. Enquanto isso, mulheres morrem na mão de homens que ainda não saíram da infância emocional...

Abraços do Verde.
Fique bem, amiga!