Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quarta-feira, 13 de abril de 2005

nós éramos ciborgues juvenis
primeiras experiências no meu novo estilo...

(nós_ciborgues-0.1.0-1)

"Marcela estremeceu de susto quando seu celular vibrou avisando da nova mensagem de texto. Não estava dormindo. Estava só tanto desorientada e sonolenta. É foda se conseguir dormir na fila do ginecologista.

Olhou a mensagem.

eu te amo esfinge.
vai dar tdo certo
baby. bjo do N-C0D3

Ah, ótimo. Ao menos ele conseguiu largar os códigos por um minuto para lembrar de mim, pensou ela. O puto deveria estar lá, continou pensando ela. Fingiu pra si mesma que preferia ter recebido uma mensagem de sua mãe. Nâo. Nâo preferia. E a velha nem sabia mesmo como mandá-las.

Marcela volta a se perder em pensamento algum, até que a recepcionista a acorda.

recepcionista> Marcela S. Paixão...
esfinge> Hã?
recepcionista> O doutor Otávio espera você...
esfinge> Ah... tá... eu entendi. 'Brigada.


Ela estava em algum lugar qualquer entre o controle e o pânico quando entrou na sala do médico. Era verde bebê, limpa, muito limpa, com livros e cadeiras e uma cama ginecológica. Havia um homem feio e barbudo lá dentro. Marcela detestou pensar que aquele era o médico. E era.

esfinge> Eh... Boa tarde.
médico> Boa tarde.

Tinha voz pastosa e olhos grandes atrás dos óculos. Marcela pensou em dizer algo como "olha, então eu vou deixar a minha boceta aí, vc dá uma olhada nela e amanhã eu venho buscar". Ok, ela estava em pânico agora.

médico> Qual é a sua queixa, senhorita?
esfinge> Marcela... Meu nome é Marcela.
médico> Ahn... eu sei. A atendente me passou sua ficha aqui...


Os dois olharam para a tela do computador que os observava ao lado do médico. Em sua tela, muito azul e amarelo, havia um programa de gerenciamento de consultórios onde se via o nome, idade e demais informações sobre Marcela. Não havia lugar para apelido ou home-page. Ela teria rido disso, mas preferiu se incomodar com a janelinha do Windows que envolvia a tela do programa. Marcela estava odiando tudo aquilo.

esfinge> Eh... eu imaginei. Então me chame pelo nome.
médico> Ok Marcela. Mas o que a traz aqui?


Que merda, ele ficou puto, pensou Marcela. Está ficando tudo cada vez pior. Marcela detesta com todas as forças a idéia de abrir as pernas para alguém que esteja puto com ela. Ela fala com a voz forte falhando...

esfinge> Não sei... Tá ardendo quando eu faço xixi e... bem... é ruim também quando eu transo com o meu namorado.


Xixi? Caralho Marcela, você não fala xixi desde os 13 anos! E que merda é essa de namorado? O N-C0D3 não pode ser chamado de namorado. Como é dificil se comunicar com gente do velho mundo...
E mesmo com o esforço de Marcela, o médico fica parado olhando para ela. Não parece estar pensando no problema dela. Nâo parece estar pensando em xixí ou namorado também. Depois, quando fala, ele poderia dizer o que pensava ser o problema, ou poderia pedir para ela tirar a roupa e deitar na cama ginecológica... ou qualquer outra coisa. Não. Ele não fez nada disso...

médico> Ahn... quantos anos você tem?
esfinge> Olha pro lado e você vai saber. Eu já respondi isso para a sua atendente. Está alí abaixo do número da minha carteira de identidade.


O médico olha para a tela irritado. E continua olhando...
E Marcela também está ficando irritada. O olhar reprovador de um ginecologista é a última coisa que ela quer aguentar nesse momento....

esfinge> Eu tenho 17 anos, cacete! E daí? Não posso foder não!? Eu tenho idade o bastante para vir aqui, dizer qual é o meu problema e pagar a porra da consulta! Me examina, ou então fica olhando pra essa merda desse seu programinha de consultório nessa porra desse seu Windows... ou se mata... mas não fique me olhando com essa cara de julgamento! PORRA!!!

Que merda. Marcela não levava jeito para lidar com pessoas normais. Pessoas do que ela havia se acostumado a chamar de velho mundo. Por isso estava com o N-C0D3. Por isso andava com os caras da ImagiNação... Eles não faziam perguntas estúpidas e não eram cuzões.

Porra. Ela iria ter que arranjar outro médico.
Quando saiu do consultório deixando o médico com cara de bunda rosada, ficou com vontade de mijar.

Isso não tem nada a ver com o conflito dos dois mundos, mas é assim que eu quero começar a história. Quem faz decide. :)"


Bem... é isso.
Este é um fragmento de "Nós éramos ciborgues juvenis" (eu sei lá se é um conto...). Não está revisado. Foi escrito ontem numa noite insone de insights fodidamente fortes e só superficialmente revisado enquanto eu passava ele para o computador hoje (preciso de um laptop...).


Vamos ver no que dá.

p.s. depois eu arranjo uma ou duas imagens para ilustrar isso aqui.

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