Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

terça-feira, 24 de março de 2009

A dor e a delícia de ter voz

Essa história do "mensalinho blogueiro" que atingiu o Noblat, além de outras histórias recentes e antigas, me fizeram pensar no quanto estar "no palanque" também é estar "na berlinda", e o quanto isso é saudável. Quando uma pessoa, seja blogueiro, jornalista, político, ou o que for, dá um passo a frente e chama a atenção das outras -- para falar, para se colocar, para propor ou mesmo para realizar -- esta atenção não o acompanha apenas no momento em que ele chama os holofotes. Quando alguém se investe de poder -- seja só o de comunicação, ou o poder de mando -- todas as atenções estarão voltadas para ele, e cada um de seus passos será vigiado, e cada uma de suas atitudes questionada, seja por boas intenções ou pelos desígnios de seus adversários políticos. Se por um lado, geralmente o lado de quem está no topo, isso pode parecer terrível -- até mesmo a expressão da inveja, da baixeza e da irresponsabilidade de quem questiona e reclama -- por outro, é justamente esta atenção um dos mecanismos que equilibra a balança.

Sem me extender muito, pois consegui expressar essas idéias em uns 280 caracteres há uns minutos atrás, acho que isso se aplica perfeitamente ao caso do Noblat. Sem dizer que ele tenha ou não cometido algum ilícito, ou que esteja mesmo "na lista de pagamento" do Senado por quaisquer "serviços" que sejam, é justo que as atenções se voltem para ele para interpelá-lo: "-- Peraí, Noblat? Que história é essa!?"

Estas interpelações é que ajudam a figura pública a manter o cuidado e a atenta retidão desejada, e a dão a chance de se explicar, e mostrar que ainda são dignas da confiança e do poder que detém. Se estes mesmos questionamentos mancham "irreversivelmente" a reputação de alguém -- algo que não acontece em um país de memória tão curta que elege Collores e Malufs -- isto certamente se dá por conta da inaptidão ou impossibilidade da pessoa em explicar seus atos E... e não vamos esquecer deste E... porque ninguém é perfeito, e as reputações completamente ilibadas são geralmente construídas em cima de mentiras.

Então, das duas uma: se por um lado, vários grupos seguem cada vez mais esconder seus atos e os atos dos seus, em nome do bom nome e da "paz e ordem", outros se ocupam incasávelmente de atirar para todos os lados, encontrando cada falha de quem quer que seja e jogando a merda nos ventiladores das mídias -- sim, das mídias, porque o que aquilo que os jornais calam, os blogues falam. Nenhum dos dois lados os faz sem suas razões, e todos fazem lá seus estragos e mal feitos em suas atividades. Mas se eu tiver que escolher um dos dois lados, que seja o de trazer a tona o que fede e o que é feio, para que todos tenham a chance de se xplicar e de mostrar a verdadeira beleza que tem, se tiverem alguma.

Porque ninguém é perfeito, e ainda não aprendemos a viver sem governantes, ídolos e chefes, temos que entender que estes mesmos sempre serão imperfeitos como nós, e que se alguém deve ir à frente para puxar o grupo, que sejam aquelas pessoas que apesar de seus defeitos, vícios e paixões, sejam ainda as melhores a ocupar suas posições.

Há tantas pessoas que podem apontar tantos de meus defeitos, e já cometi tantos erros. Se ainda acredita em algo do que fala, escuta o que digo, e me respeita. É porque é possível se respeitar alguém apesar de sua imperfeição. Isso deve se aplicar a todos. Então... que venha a tona aquilo que é, e cada um mostre do que realmente é feito e do que realmente é capaz. E vamos em frente, tentando encontrar os caminhos e as pessoas em quem confiar.

Em tempo... Noblat deu a sua versão para os fatos, e alguns acreditaram, outros não, e outros ainda levantaram novas indagações. Segue o bonde, e quem quiser, que acompanhe. Dessa história já tirei que tudo corre como deveria. Vamos apontar o dedo sim, mas sem esquecer de pensar também em quem somos e no que estamos fazendo, sim?

#prontofalei.

Agora posso voltar ao meu trabalho.

Nenhum comentário: