Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Metade
de Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe
seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada,
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida
e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimento.

Porque metade de mim é o que eu ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço,
Que essa tensão que me corroe por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso
e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste,
que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto
o doce sorriso que eu me lembro
de ter dado na infância.

Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais
do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.

Porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba,
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é a plateia
e a outra metade, a canção.

E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.



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